Filosofia medieval – Parte I

Antes de estudarmos a Filosofia da Idade média, vamos contextualizar o período medieval:

De modo geral, pode-se dizer que o tema mais importante da filosofia medieval foi a questão da relação entre fé e razão.

Razão + Fé = Filosofia Medieval
A Idade Média foi um período profundamente teocêntrico, seus filósofos foram todos homens religiosos. Assim, o objeto central de sua reflexão foi via de regra a análise das diferenças e da relação entre os dogmas aceitos pela fé e as verdades descobertas pela razão.

Fé ≠ Razão

Filosofia Medieval

A fase final da Filosofia Medieval (séculos XI e XV) equivale ao desenvolvimento da escolástica e a criação das universidades.

  1. A filosofia de São Tomás de Aquino, que se aproximou dos textos de Aristóteles, resultou numa nova contribuição para o desenvolvimento da escolástica;
  2. Posições controvertidas que foram assumidas na Filosofia, na Teologia e na Política;
  3. O levantamento de questões que aproximavam a Teologia da Filosofia, investigando racionalmente os fundamentos da fé cristã;
  4. A presença da tradição aristotélica na Europa ocidental;
  5. O pensamento de Santo Agostinho;
  6. A transição do helenismo para o cristianismo.

Nascimento da Filosofia Cristã

Como você viu, é no período final da Idade Média que ocorre a transição do helenismo para o cristianismo.

1. A religião cristã originária do judaísmo surge e se desenvolve no contexto do helenismo. A cultura ocidental da qual somos herdeiros até hoje é a síntese entre o judaísmo, o cristianismo e a cultura grega.

2. O helenismo permitiu a aproximação entre a cultura judaica e a filosofia grega, que tornou possível, mais tarde, o surgimento de uma filosofia cristã. Em Alexandria, essas culturas conviveram e se integraram, de forma que se falavam várias línguas na região. Nessa época, foi possível encontrar uma aproximação entre a cosmologia platônica e a narrativa da criação do mundo.

3. Inicialmente, o cristianismo não se distinguia claramente do judaísmo. Ele era visto como uma seita reformista dentro da religião da cultura judaica.

4. Para os gregos, o príncipe divino operava no mundo, essa visão influenciou fortemente o desenvolvimento da filosofia cristã.

5. É em São Paulo que encontramos a concepção de uma religião universal. Ele defendia a necessidade de pregar a todos. Esta é uma diferença básica em relação ao judaísmo e as demais religiões da época.

Confira agora alguns fatos históricos que contribuíram para o nascimento da Filosofia cristã:

  • Podemos dizer que a cultura de língua grega hegemônica permitiu a concepção de uma religião universal, que corresponde, no plano espiritual e religioso, a concepção de império no plano político e militar. Essa concepção foi consolidada com o batismo do imperador Constantino, em 337, e com a institucionalização do cristianismo como religião oficial. Entretanto, não havia ainda uma unidade no cristianismo.

    Sentindo-se às portas da morte, Constantino pediu ao seu amigo e conselheiro espiritual, o bispo ariano Eusébio, para batizá-lo e absolvê-lo dos pecados. Tela de Rafael (séc. XVI).
  • A filosofia grega teve uma importância fundamental no processo de unificação do cristianismo, quando as discussões levaram a formulação de uma unidade doutrinária hegemônica, ortodoxa. Os primeiros representantes dessa filosofia cristã pertenceram a, assim, chamada escola neoplatônica cristã de Alexandria.

    A Escola de Alexandria usava uma teologia com base na interpretação alegórica da Bíblia, formada pela combinação entre a erudição filosófica grega e as verdades fundamentadas no evangelho.
  • Uma questão que acompanhou todo o pensamento medieval foi o conflito entre razão e fé, que era foco de tensão permanente. Diversos concílios fixaram a doutrina considerada legítima e condenaram os que não aceitavam esses dogmas expulsando-os da Igreja.

    a Igreja era uma das instituições que tinham mais poderes na sociedade medieval, utilizando-se dessa dominância para disseminar a doutrina cristã neste período.
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VOCÊ SABIA?

Podemos dizer que a filosofia grega se incorporou de maneira definitiva à tradição cristã: a lógica e retórica forneceram meios de argumentação; e a metafísica de Platão e de Aristóteles forneceu conceitos chaves (substâncias, essências e etc.), em função dos quais questões teológicas eram discutidas.https://atreus.uoledtech.com.br/estacio/video/54830ondemand_videoVídeo.https://atreus.uoledtech.com.br/estacio/video/196751ondemand_videoVídeo com libras.

Santo Agostinho

Um dos grandes pensadores cristãos foi Santo Agostinho. A sua influência filosófica e teológica se estendeu até o período moderno.

Veja os três aspectos fundamentais da contribuição desse pensador para o desenvolvimento da Filosofia:

  1. A formulação das relações entre Teologia e Filosofia, entre razão e fé;
  2. A criação da teoria do conhecimento com ênfase na questão da subjetividade e da interioridade;
  3. A elaboração da teoria da história que foi desenvolvida na monumental cidade de Deus.

Santo Agostinho pode ser considerado o primeiro pensador a desenvolver uma noção de uma interioridade que prenuncia o conceito de subjetividade do pensamento moderno.



Encontramos no pensamento de Santo Agostinho a oposição interior/exterior e a concepção de que a interioridade é o lugar da verdade: é olhando para a sua interioridade que o homem descobre a verdade pela iluminação divina.


A teoria da iluminação divina vem substituir a teoria platônica, explicando o ponto de partida do processo de conhecimento e abrindo o caminho para a fé.

Santo Agostinho viveu em tempos conturbados: a ruína do mundo antigo, a decadência do Império Romano, as invasões dos bárbaros pagãos.

Ele mostrou que os eventos históricos devem ser interpretados à luz da revelação, que a cidade divina prevalecerá, já que a história tem uma direção.

Desenvolvimento da Escolástica

Você já estudou que o termo escolástica designa todos aqueles que pertencem a uma escola ou que se vinculam a uma determinada escola de pensamento e de ensino. Conheça, agora, os fatores históricos que contribuíram para o seu desenvolvimento.

As culturas bárbaras que se estabeleceram na Europa Ocidental não tinham conhecimento e, nem tampouco, interesse pela Filosofia. Só a partir do século IX, cinco séculos após a morte de Santo Agostinho, a situação começa a mudar.

Em 529, São Bento fundou, na Itália, a ordem monástica beneditina, diferente das ordens monásticas das igrejas orientais, que eram exclusivamente contemplativas. Graças aos monges copistas foram preservados os textos da antiguidade clássica greco-romana, nas bibliotecas.

Progressivamente, o mundo europeu ocidental começava a se reestruturar. A primeira grande tentativa de reestruturação aconteceu no natal do ano 800, quando o papa Leão III, convidou Carlos Magno para ir à Roma e lá o consagrou imperador do sacro império romano germânico. Após a morte de Carlos Magno, seu império foi dividido entre o seu filho e os sucessores deste, levando a uma nova fragmentação política, que gerou grandes conflitos.

É, portanto, em torno dos séculos XI e XII que vamos assistir o surgimento da chamada escolástica. Neste contexto, aparece a famosa querela entre a razão e a fé que percorre toda a Filosofia Medieval. No entanto, o desenvolvimento da Filosofia torna-se possível devido à difusão de consolidação das escolas nos mosteiros e catedrais.

Santo Anselmo

  1. Santo Anselmo é considerado o primeiro grande pensador da escolástica. Ele elaborou sua filosofia buscando articular a razão e a revelação, a fé e o entendimento.
  2. Santo Anselmo deu a sua principal contribuição à Filosofia na formulação do famoso argumento ou prova ontológica, como ficou conhecido posteriormente (desde Kant). Trata-se de um dos argumentos mais clássicos da tradição filosófica, tendo sido questionado por outros filósofos na Idade Média, dentre eles São Tomás de Aquino.
  3. A conclusão de Santo Anselmo é que não se pode pensar a inexistência de um ser do qual nada maior pode ser pensado sem contradição. Desse modo, fica provada a existência de Deus.
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