Silveira, E.M.
Resumo
A pandemia da doença causada pelo novo corona vírus Sars-Cov-2 (Covid – 19), a partir de 2020, impactou o cenário mundial e exigiu mudanças em quase todos os setores da sociedade e, principalmente, na Educação. Diante da nova realidade, este estudo se propôs a realizar uma investigação sobre os desafios do ensino da Geografia e analisar como os educadores se adequaram para que o processo de ensino-aprendizagem tivesse continuidade e, assim, evitar que os alunos fossem mais prejudicados com o isolamento social, o qual foi exigido como protocolo de segurança para evitar a disseminação do vírus. Realizou-se uma revisão bibliográfica, a partir de livros e de periódicos científicos indexados na base de dados disponíveis na plataforma Google e outras, que deu embasamento teórico ao estudo de caso realizado através do acompanhamento das aulas virtuais do Professor Marcelo Borges Varandas, do Colégio Machado Sobrinho, da Rede Privada de Ensino de Juiz de Fora – MG, para conhecer sua nova metodologia para a educação no modelo remoto e, apresentar os resultados desta prática e, assim, contribuir com a reflexão de outros educadores.
Palavras Chaves: Ensino de geografia, ensino remoto, pandemia, metodologias inovadoras de ensino-aprendizagem.
INTRODUÇÃO
Os avanços da tecnologia nas últimas décadas trouxeram grandes benefícios para a sociedade e, neste período de pandemia do Sars-Cov-2 (Covid – 19), eles foram fundamentais para que muitos serviços tivessem continuidade durante o isolamento social. Através deles, foi possível dar continuidade ao processo de ensino-aprendizagem, o qual requereu um novo modelo de ensino, agora remoto, com aquisição de novas habilidades e competências.
Percebeu-se, assim, a necessidade de reformular as atuais práticas pedagógicas do ensino e questionar o nível de Letramento Digital de professores e alunos e sua utilização como estratégia associada às Metodologias Ativas para o melhor desenvolvimento da aprendizagem híbrida e inclusão digital.
Alunos e professores não estavam preparados para utilizar as ferramentas disponíveis, mas por determinação das secretarias de Educação as aulas seriam online ou os professores deveriam preparar materiais de estudos para serem entregues aos alunos. Diante da nova realidade, foi preciso aprender, se adequar e buscar alternativas para o novo modelo de ensino, ainda que as mesmas dessem resultado positivo ou não.
Nesse sentido, surgiu à necessidade de professores e alunos serem/estarem letrados digitalmente, capazes de combinar a multiplicidade de competências na leitura das mais variadas mídias, para saberem interpretar, administrar, compartilhar e criar sentido eficaz no âmbito dos canais de comunicação digital por meio do domínio de técnicas e habilidades para acessar, interagir, processar e desenvolver multiplicidade de tecnologias existentes na atualidade.
Daí a necessidade de estudar o tema em questão, cuja relevância advém do fato de que, para atuar pelo sistema virtual, professores/alunos tiveram que aprender a usar plataformas digitais em um período muito curto de tempo. Assim, a experiência apresentada neste estudo, com acertos e/ou erros, poderá contribuir com a prática pedagógica de outros professores na disciplina Geografia e outras. Para isso, foi feito um estudo de caso, baseado em observações das aulas de Geografia, o qual foi embasado teoricamente a partir de diversos autores, que tratam do tema educação, e conhecer o trabalho virtual desenvolvido na disciplina Geografia, na Escola Machado Sobrinho, em Juiz de Fora – MG.
METODOLOGIA
Para realização do estudo, optou-se por uma abordagem qualitativa de Lüdke & André (1986), que é um método que permite ao pesquisador, se aproximar da realidade que quer conhecer, coletar dados sobre ela para, posteriormente, analisá-los, interpretá-los e, assim, poder descrevê-la.
A escolha pelo estudo de caso se deu por ser uma estratégia de investigação qualitativa, inserida no contexto das ciências humanas e sociais, cuja finalidade não é apenas realizar diagnóstico detalhado sobre um determinado problema social, mas compreender uma dada realidade, que neste estudo, é a mudança no método de ensino, através do sistema virtual.
As observações foram analisadas a partir da pesquisa bibliográfica, que lhes deu embasamento teórico, através do conhecimento produzido sobre o tema estudado, que puderam apontar respostas aos problemas de estudo estabelecidos pela investigação, conforme Lüdke e André (1986).
Optou-se por este tipo de pesquisa porque o interesse era conhecer a atuação dos alunos e a didática do professor, através de um contato mais direto (ainda que virtual) com a dinâmica da sala de aula.
Neste tipo de abordagem, o pesquisador não se preocupa com os resultados, mas com o processo em que se dá a aprendizagem. Dessa forma, a abordagem permitiu compreender a dinâmica das aulas, as dificuldades e sucessos dos alunos, sua interação com colegas, com o professor e o interesse pelo conteúdo. Ressalta também Lüdke e André (1986), que na posição de observador foi possível conhecer a realidade observada, através da coleta de dados no momento em que as atividades eram realizadas.
Os dados coletados foram analisados e embasados teoricamente, a partir de Freire (2002), que propõe uma educação problematizadora, dialogal, que permite ao educando participar ativamente daquilo que se pretende discutir e de outros teóricos, que tratam do letramento digital. Através dessa prática, a mesma utilizada nas aulas ministradas pelo professor Marcelo Varandas, desenvolve-se a cidadania consciente do mundo real em que vive e, para isso, não basta que o educando ouça conteúdos para serem memorizados, mas que os mesmos se façam através do intercâmbio de saberes entre o educador e os educandos. Assim eles aprendem e deixam de repetir, mecanicamente, aquilo que ouvem, o que faz dessa prática um trabalho humanista e libertador, que propicia ao educando a sua emancipação, pois se torna o sujeito da sua própria história.
O período observado foi de 22 de março até 15 de julho de 2021.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Esse trabalho científico contou com ampla revisão bibliográfica e os principais autores lidos foram Freire (2002), Xavier (2002), Soares (2004), Kleiman (2005), Justo e Rubio (2013) e Maia (2018), que abordam a questão da necessidade do letramento digital.
Kleiman (1995) diz que o letramento não deve ficar restrito ao sistema escolar nem se contentar com o aprendizado de ler e escrever várias palavras, pois isso não é suficiente para capacitar os indivíduos, que precisam ser letrados no sentido amplo, o que inclui o letramento digital, para que os alunos saibam utilizar a linguagem escrita em diferentes contextos e conhecer os diferentes gêneros textuais, que fazem parte da sociedade e levá-los a ler e interpretá-los; incentivar a prática social da leitura e a escrita, de forma criativa, investigativa, crítica, autônoma e ativa, através do diálogo e debates de textos, pois a mesma deve ser transformadora dos sujeitos sociais que a utilizam.
Soares (2004), em concordância com Kleiman (2005) salienta que o sujeito se insere no mundo da escrita, ao que ela chama de aquisição de uma tecnologia denominada alfabetização e, quando ele desenvolve as competências (habilidades, conhecimentos e atitudes) de uso efetivo dessa tecnologia em suas práticas sociais, com o uso da escrita, ele está letrado, passou pelo letramento. Mas com o uso da tecnologia, é preciso que os alunos recebam o letramento digital, que é uma exigência do mundo moderno.
Soares (2004) ainda ressalta que cabe aos professores transformarem o aluno alfabetizado em uma pessoa letrada, com incentivos variados, como: diversos tipos de leituras, utilização de exercícios de interpretação e compreensão, revistas, jornais, internet e outros, de modo que os alunos sejam usuários conscientes da habilidade linguística, a qual deve estar adequada à situação de comunicação.
Para Xavier (2002), o surgimento das novas tecnologias de comunicação tem modificado muitas atividades, inclusive o processo de ensino/aprendizagem, o que leva os estudiosos da educação e da linguagem a refletirem sobre as consequências dessas novas práticas sociais e uso da linguagem na sociedade, pois é necessário que todos aprendam a utilizar as ferramentas tecnológicas na vida social, como o computador, a Internet, o cartão magnético, o caixa eletrônico e tantos outros.
Surge assim, um novo paradigma ou modalidade de letramento: o letramento digital, o qual precisa ser dominado pelo sujeito, que aprende a utilizar um conjunto de informações e habilidades mentais para se tornar capacitado a utilizá-las. As instituições de ensino devem trabalhar nesse sentido para capacitar os alunos para exercerem seus direitos de cidadão e não serem excluídos desta nova realidade cercada de informações eletrônicas e digitais.
As duas prioridades da escola, segundo Xavier (2002), são alfabetizar e letrar e com o auxílio dos meios de comunicação tradicionais (rádio, TV, jornais, revistas, etc.) e agora com os modernos (Internet, CD, CD-Rom, DVD), ajuda a consolidar a cultura da escrita.
Mas para chegar a essa necessidade do letramento digital, observa-se que ocorreram muitas mudanças e constata-se que, hoje, há inúmeros objetos considerados imprescindíveis, que há 30 anos não existiam. Neste contexto, inclui-se o acesso aos meios de comunicação, principalmente a informática e o acesso à banda larga. Essas mudanças não ocorreram de uma hora para outra, mas foram acentuadas após as duas Grandes Guerras Mundiais e, entre tais mudanças, destacam-se com o advento na Guerra Fria alguns avanços que a humanidade recebeu, como a comida congelada, os enlatados, geladeiras e freezers, televisão e, principalmente, o surgimento do computador (personal computer).
Com o advento da internet, o entretenimento ganhou novas opções, e as transações comerciais e bancárias entre empresas e consumidores foram intensificadas em tempo real. Pode-se falar em uma revolução tecnológica, onde o microchip é essencial para termos aulas on-line e as vendas pelos sites da internet, que tiveram um aumento substancial, principalmente, neste período da pandemia do Sars-Cov-2, Covid – 19 (ZENHA, 2008).
Diante do exposto, é preciso que haja mudança também na prática pedagógica, de modo a buscar uma educação mais crítica e reflexiva com relação ao conteúdo oferecido aos alunos, ao conhecimento teórico na aplicação de atividades e na condução do modelo adotado pelos educadores.
Neste contexto, a prática do professor observado aponta um “norte”, para orientar e como se posicionar num processo de construção da aprendizagem e, nesse sentido, o pesquisador observou as aulas ministradas pelo professor Varandas, sob a perspectiva de Heráclito de Éfeso, que considera a realidade como um “eterno devir, em que nada fica estático, pois tudo se move, tudo muda” (p. 93).
Nesse sentido de mudanças, no mundo globalizado, observa-se a educação como disruptiva, de acordo com Bacich, Tanzi Neto e Trevisan (2015) ao considerarem que o máximo potencial está personalizado na aprendizagem, que aposta na formação precoce – nativos digitais, além de uma integração com uma inteligência artificial (Google Forms), que reforça as habilidades digitais e impulsiona o pensamento crítico, a partir da informação, que deve ser analisada e confrontada pelo educando.
A escola é o ambiente principal dessa construção, pois é um espaço de formação do indivíduo para a sociedade ou, pelo menos, é isso o que se espera que seja. Mas para que isso aconteça, todo o ambiente escolar – gestão, docência, espaços físicos e digitais – precisam ser aberto a novas possibilidades, ser criativo e empreendedor. Ao se comparar o que acontece em muitas escolas, onde se tem uma prática pedagógica tradicional (memorização, repetição, controle) e outras com uma visão criativa e empreendedora da aprendizagem, constata-se o quanto ainda é preciso mais mudanças para que todos tenham oportunidades efetivas de aprender e de empreender.
O educador, como orientador ou mentor, ganha relevância. O seu papel é ajudar os alunos a irem além daquilo que são capazes de caminharem sozinhos, auxiliados pelos seus pares, motivados, orientados e estimulados ao questionamento, como diz Vygotsky (1991). É importante salientar que quando o educador expõe menos os conteúdos, orienta mais e o educando participa de forma ativa, a aprendizagem é mais significativa (BACICH, L; NETO, A. T.; TREVISAN, 2015) e é preciso, também, que seja estabelecida a intermediação entre o patrimônio cultural da humanidade e a cultura do educando, através de uma linguagem acessível, mas não banalizada (PINSKY, J; PINSKY, B, 2003).
EDUCAÇÃO PARA UM MUNDO EM TRANFORMAÇÃO
Tudo muda, rapidamente, no mundo contemporâneo o que torna difícil a “sobrevivência dos homens que constituem hábitos, costumes, tradições e que resistem a formas diferentes de vida”, como afirma Theodoro (2003, p. 49).
Nesse sentido, é preciso acompanhar as mudanças, para sobreviver no mundo globalizado e Heráclito em seu fragmento 51 (1996) acreditava ser o devir o próprio constitutivo característico do ser, que é o atributo de transformação, que modifica o próprio ser (o ser se transforma constantemente e esse movimento de transformação é devir; logo, o devir é ser).
Segundo Marcondes (2002), Heráclito de Éfeso, juntamente com os atomistas, são os principais representantes do mobilismo, isto é, da concepção segundo a qual a realidade natural se caracteriza pelo movimento, em que todas as coisas estão em fluxo, cujo sentido básico “Panta rei” (Tudo passa) é ressaltado por Heráclito. Para ele, a mudança é comparada às aguas do rio (fr. 91, p. 93), quando diz que “não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo”. Esse fragmento sintetiza a ideia da realidade em fluxo e pode ser comparada às mudanças que ocorrem na mente dos indivíduos que buscam o conhecimento e, através dele, são transformados. Cabe aos educadores propiciarem aos educandos a oportunidade de saberem enfrentar o desafio de mudanças exigido no mundo contemporâneo, em que nada, nunca, está no mesmo lugar, em que as relações de causa e efeito não fazem mais sentido, porque a mudança cria uma infinidade de variáveis, que obriga os indivíduos a trabalharem com as ideias de sistema e de rede.
Assiste-se, na sociedade moderna, a crise de vários modelos, como o do Estado, do emprego, da política, da justiça, da família, dentre outras. Diante de tantos desafios, o papel dos educadores é auxiliar os educandos a compreenderem melhor esse mundo repleto de tantas variáveis através do pensamento, dos conhecimentos adquiridos (não mais acumulados e memorizados) de forma reflexiva e dinâmica, que lhes permite aprender a identificar, comparar e relacionar.
METODOLOGIAS ATIVAS
De acordo com Bacich e Moran (2018), as metodologias ativas de aprendizagem são aquelas que estimulam os educandos a participarem diretamente do processo de ensino-aprendizagem e serem protagonistas do mesmo, com a utilização de três caminhos de aprendizagem: individual, em grupo e tutorial.
O principal método de ensino que utilizam é o dedutivo, em que o professor, primeiro, ensina a teoria e, depois, os alunos devem aplicá-la à situação-problema, para aprender por meio de investigação e experimentação, que levam à compreensão daquilo que se deseja ensinar.
Pode-se dizer que a metodologia ativa é uma trilha com diferentes ações, tempos e designs, que exige que educandos e educadores realizem diferentes formas de movimentos internos e externos, a partir da curiosidade, do despertar da emoção, que “abrem as janelas da atenção, foco necessário para a construção do conhecimento” (BACICH; MORAN, 2018).
Os autores dizem que a aprendizagem ativa e reflexiva melhora a flexibilidade cognitiva, ou seja, a capacidade de mudar e realizar diferentes tarefas, operações mentais ou objetivos, e se adaptar a situações inesperadas, superar modelos mentais rígidos e automação ineficiente. Essas são expressões atuais aprendidas por meio de experimentação, design e aprendizado maker.
Nesta prática, de acordo com Bacich e Moran (2018), cita-se alguns exemplos de metodologias ativas:
1) Sala de aula invertida, quando o tema é repassado, a priori, para os educandos e eles devem buscar textos, vídeos, músicas e podcasts para assimilar o conteúdo, e ao retornarem a sala de aula são avaliados para medir o conhecimento adquirido.
2) Ensino híbrido, que se divide entre o ensino presencial e o ensino a distância, como empregado no retorno às aulas no período da pandemia.
3) Promoção de seminários e discussões, que levam os educandos a uma posição de busca de informações e do diálogo, na prática da argumentação e tomada de posições diante da realidade.
4) Gamificação: O uso de jogos, que utilizam a competitividade ou cooperação para a sala de aula. Para tal, não se requer tecnologia, pois podem ser jogos de qualquer espécie.
A metodologia ativa traz em sua essência aquilo que Platão quis mostrar na alegoria do ‘mito da caverna’, que permite várias interpretações, entre elas, uma reflexão sobre o conceito de conhecimento de mundo a partir da subjetividade do sujeito, que acredita no que tem acesso e age de acordo com sua escolha. O mundo do homem das cavernas é simples, e seu comportamento se resume a observar as sombras refletidas nas paredes, que é o único conhecimento que eles têm (MARCONDES, 2002).
Ao relacionar esse cenário à sala de aula, o ambiente da caverna simboliza a estrutura física dela e as sombras seriam os conteúdos, já as pessoas que carregavam os objetos refletidos seriam os professores e os alunos ali representados pelos próprios homens da caverna.
Essa alegoria pode ser comparada ao movimento do Ensino Híbrido, que surge para levar os alunos para fora da caverna e, junto com eles, os professores também. Esse movimento da sala de aula, vivenciado durante o ano de 2020 e 2021, provavelmente evoluirá nos próximos anos. Na nova sala de aula, fora da caverna (agora virtual), descortina-se um mundo, no qual os passeios são chamados de navegação, com espaços de navegadores, os caminhos de links ou sites, os acessos de login e a imagem projetada nos quadradinhos das salas virtuais.
A forma como os indivíduos percebem o mundo e se comunicam, nesse novo espaço, exige de cada um uma nova leitura dele, um novo letramento, o Letramento Digital. Nessa jornada, os educadores têm uma nova missão, que é a de preparar os estudantes para um futuro, cujos contornos são, na melhor das perspectivas, nebuloso. Não se sabe quais novos problemas sociais, políticos, econômicos, e até psicológicos, surgirão, mas constata-se que há uma exigência de novas competências e habilidades necessárias para que os alunos possam estar ativamente conectados com esse futuro. Algumas dessas habilidades são: criatividade e inovação, pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração e trabalho em equipe, autonomia, flexibilidade e aprendizagem permanente, pois, segundo Dudeney, Hockly e Pegrum (2016)
“No centro desse complexo de habilidades, está à capacidade de se envolver com as tecnologias digitais, algo que exige um domínio dos letramentos digitais necessários para usar eficientemente essas tecnologias, para localizar recursos, comunicar ideias e construir colaborações que ultrapassem os limites pessoais, sociais, econômicos, políticos e culturais. Em vista de se envolver plenamente com as redes sociais, ter acesso a vagas de emprego nas economias pós-industriais de conhecimento e assumir papéis como cidadãos globais confortáveis em lidar com diferenças interculturais, nossos estudantes carecem de um conjunto completo de letramentos digitais a sua disposição” (DUDENEY, HOCKLY e PEGRUM, 2016, p. 17).
Diante desta urgência em proporcionar o letramento digital, para que os indivíduos assumam o papel de cidadão global, como dizem os autores, é preciso refletir sobre a qualidade da Educação Brasileira, que de acordo com a Constituição Federal/1988, é um direito de todos e, conforme o art. 205, um dever do Estado e da família e deve ser “promovida e incentivada com a colaboração da sociedade”. E ainda acrescenta que a educação visa “ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Mas, na prática, essa educação não se concretiza, pois entre o ensino público e o privado há uma diferença gritante, pois o governo não investe no ensino público, não valoriza os professores, que têm uma baixa remuneração e precisam trabalhar em várias escolas para garantir seu sustento; faltam condições dignas de trabalho e os alunos não recebem um ensino de qualidade. Enquanto as escolas particulares cobram altas mensalidades, o que lhes dá condições de contar com um quadro docente bem remunerado e oferecer um ensino melhor. Percebe-se um aumento no número de instituições particulares de ensino, enquanto há o sucateamento das escolas públicas.
Mas isso não é um fato atual, pois a educação sempre foi privilégio da classe dominante, como diz Luckesi (2001):
“No Brasil, desde a Colônia até nossos dias, a escola foi privilégio do dominante. Na Colônia, eram as novas gerações dos proprietários de terra e dos comerciantes que podiam ter acesso à educação; Hoje, quem tem acesso à escola de melhor qualidade são as gerações descendentes daqueles que possuem melhores condições econômicas. O povo quer a escola, mas nem por isso tem acesso a ela. E quando o tem, quase nunca pode permanecer nela, seja pelas condições sociais de vida, seja pelas condições satisfatórias em que o ensino se dá, seja pela má qualidade do ensino” (LUCKESI, 2001, p. 79).
Percebe-se na citação acima, que o acesso e permanência na escola são uma das grandes dificuldades nas escolas públicas, que traz um desafio à gestão pública, que é manter o aluno na escola e oferecer ensino de qualidade, como é ressaltado na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Com relação à qualidade do ensino público e privado, o período da pandemia do novo Corona vírus escancarou as desigualdades educacionais em que o Brasil está mergulhado. No momento em que o ensino se tornou remoto, constatou-se que a maioria dos alunos da escola pública não tem computador e celular para se conectar a rede nem acesso à internet banda larga e muitos foram prejudicados.
“A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, divulgada hoje (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede” (TOKARNIA, 2020, p. 1).
Ao contrário dessa realidade, no ensino privado, os alunos têm acesso à rede de internet, celulares e computadores, além de uma estrutura de softwares e plataformas on-line, que possibilitaram a chegada do conhecimento em suas casas, com adaptações, que permitiram que a educação virtual oferecesse a mesma qualidade do ensino presencial.
ESTUDO DE CASO
O presente estudo foi realizado no Colégio Machado Sobrinho situado na Rua Dr. Constantino Paleta, 203, centro, em Juiz de Fora – MG – CEP: 36015-450. Telefones: (32) 3215-2597 (secretaria) e WhatsApp: (32) 99965 8678. O colégio possui o website: www.colegiomachadosobrinho.com.br e se faz presente nas redes sociais pelo Instagram: @colegio_machado_sobrinho, por um canal no Youtube e uma página no Facebook.
A escola foi fundada em 1909, por Antônio Vieira de Araújo Machado Sobrinho, que lançou os fundamentos do Externato Lucindo Filho (Colégio Lucindo Filho), com o Curso Primário (hoje denominado Ensino Fundamental), Preparatório e Comercial e, assim, deu-se o início de uma história que, ao longo dos anos, efetivou o Colégio Machado Sobrinho.
Em 1912, o projeto educacional cresceu ao ser fundado o Instituto Comercial Mineiro, anexo ao Colégio Lucindo Filho, com educação para jovens carentes.
Até meados de 1938, a Instituição esteve sob a direção de seu fundador, que falecera naquele ano, quando passou a ser dirigida pelo seu primogênito, o então, Deputado Federal Luiz de Gonzaga Machado Sobrinho, que exerceu suas funções até 1942, quando, por motivo de saúde, passou a direção do educandário ao Professor Fernando de Paiva Mattos.
No ano seguinte, em 1943, o Instituto Comercial Mineiro passou a denominar-se Escola Técnica de Comércio Machado Sobrinho, mantendo os cursos Comercial, Básico e Técnico em Contabilidade e, mais tarde, verificou-se a necessidade de ampliar os serviços educacionais e foram restabelecidos os cursos Primário (1ª a 4ª séries), Ginasial (5ª a 8ª séries) e Colegial (1º ao 3º ano – equivalente ao Ensino Médio atual).
No início de 1961, sob a presidência do Professor Píndaro José Alves Machado Sobrinho, a instituição foi transformada em Fundação, com o objetivo de perpetuar o nome do Fundador, difundir e aperfeiçoar seus ensinamentos.
A Fundação Educacional Machado Sobrinho, entidade sem fins lucrativos e de caráter filantrópico, sucessora do Colégio Lucindo Filho e do Instituto Comercial Mineiro, sob a dinâmica e atuante direção do Prof. Fernando de Paiva Mattos, prosperou. Além dos cursos em funcionamento, a partir de 1969, foram criadas as Faculdades de Administração e de Ciências Contábeis.
O Projeto Institucional da Fundação Educacional Machado Sobrinho foi reestruturado, inicialmente, em 2004. Desde então, anualmente, de forma compartilhada, Direção, Coordenação, Professores e Auxiliares Administrativos, permanentemente, discutem as mudanças e os rumos da Instituição, privilegiando os aspectos qualitativos em detrimento aos quantitativos.
5.1 As aulas pelo sistema remoto
Devido à pandemia de Sars-Cov-2 (Covid 19), todas as observações foram realizadas e assistidas de forma remota. As aulas foram ministradas pelos professores do Colégio Machado Sobrinho através da plataforma do Google Classroom (Sala de Aula) e as reuniões pelo Google Meet, onde fora criado uma conta de acesso para que todos assistissem às aulas.
O professor Varandas iniciava as aulas, às 07h15min, pontualmente, e realizava a chamada para verificar a presença dos alunos que, para participarem, deveriam abrir o áudio e responder, pois não era permitido fazê-lo via chat, conforme recomendação da direção pedagógica.
Neste período, observou-se que as turmas estavam grande quantidade de alunos, em média, 50 (cinquenta) por turma, o que levou a sua divisão, com novo quadro de horários.
No Ensino Fundamental, anos finais, a observação acompanhou as aulas das turmas: 6º ano B, 7º ano A e B, 8º ano A, e as três turmas do Ensino Médio, nas quais o professor Varandas usava, diariamente, o recurso de slides e partes do livro didático digital de cada ano, como forma de tornar as aulas mais dinâmicas. Para essas turmas, o professor fazia a leitura ou os próprios alunos se voluntariavam para fazê-la.
Após as leituras, o professor dava explicações, fazia questionamentos, buscava a interação com os alunos, para constatar a presença e verificar se estavam acompanhando. Algumas vezes, o professor não obtinha uma resposta positiva por inconsistências na rede de internet ou problemas técnicos no aparelho de celular ou computador (desktop ou notebook) dos alunos.
Inicialmente, os alunos apresentavam seus avatares com desenhos e caricaturas, mas foi requisitado pela direção acadêmica que eles trocassem por fotos reais e excluíssem os desenhos, a pedido dos professores, especialmente, pelo professor Varandas. Durante as aulas, os alunos não eram obrigados a abrir as câmeras, mas era sempre sugerido pelo professor para que o fizessem, para que pudesse vê-los, pois alguns não eram conhecidos presencialmente. Assim, com a câmera ligada e as fotos no perfil do aluno, os professores poderiam conhecê-los.
As aulas do professor Varandas eram muito dinâmicas e não se limitavam ao livro. Ele utilizava outros recursos, como músicas, vídeos e documentários pertinentes ao conteúdo ministrado, com muito conhecimento e demonstrava enorme cultura, que acumulou nos anos de docência.
Neste contexto, Tarfid (2002) ressalta que a profissão de professor se constrói sobre quatro pilares, quais sejam: os saberes da formação profissional, a disciplina, o currículo e os saberes experienciais, que são construídos através da prática pedagógica.
5.2 Análise dos materiais de suporte às aulas
O Colégio Machado Sobrinho adota o livro didático ‘Teláris Geografia’ (VESENTINI e VLACH, 2019) da Editora Ática, para todas as turmas do Ensino Fundamental. Para o Ensino Médio utilizam apostilas específicas para cada ano, as quais disponibilizadas aos alunos pelo próprio Colégio.
Os documentários apresentados nas aulas são pertinentes aos conteúdos trabalhados e foram distribuídos aos alunos no Google Sala de Aula. Eles fazem parte do acervo pessoal do professor e pertencem ao Google Drive: Entendendo as cidades; Desconstruindo Paris; Desconstruindo Nova Iorque; Desconstruindo Londres; História da Terra: camadas da terra; Geologia: camadas da terra – parte 1; Geologia: camadas da terra – parte 2 e Geologia: camadas da terra por dentro da terra.
As atividades eram postadas no Google Sala de aula e os alunos deveriam realizá-las manualmente, fotografá-las ou digitaliza-las, para encaminhar à plataforma na data especificada pelo professor. Tais atividades eram avaliativas e acumulativas para a nota final do aluno.
Os testes e provas ficam disponíveis para os alunos em datas agendadas pela coordenação e, neste dia, os alunos podiam contar com um plantão tira-dúvidas. Ao término, deveriam encaminhar o formulário com suas respostas até às 23h59min e, caso não o fizessem no tempo estipulado, só poderiam fazê-lo com justificativa e aceitação da mesma, pela Profª Joseny Delage Merotto.
A avaliação segue o método tradicional associado a ferramentas online (Google Forms) – avaliação gamificada, com o objetivo de desenvolver o educando. Segundo Dias e Garcia (2019), a gamificação é o uso de aplicativos voltados à avaliação e fazem parte das possibilidades de utilização de metodologia ativa em sala de aula. Ainda é comum verificar, quando se estuda a gamificação, pensar e relacionar o ato de gamificar com aplicação de jogos na sala de aula. Na verdade, o termo gamificação não se refere diretamente a um game ou um jogo, mas o uso de mecânicas dos jogos para se aprender ou ensinar algo.
A partir da análise desse material, constatou-se a riqueza nas suas produções audiovisuais, que facilitam a construção do conhecimento de cada aluno, como complementação aos conteúdos do livro didático e às explicações e notas do professor Varandas.
RESULTADOS
As novas tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) revolucionaram a internet e apresentou grandes mudanças sociais com a dissolução das fronteiras com os espaços virtual e físico, num espaço híbrido de conexões, flexibilidade com fluxos diversos de informação. Além de novos modos de expressar sentimentos (términos de relacionamentos por mensagens, namoro por aplicativos), crenças (cultos e celebrações religiosas via web) e desejos (ALMEIDA, 2011). E o professor soube utilizar de todos esses recursos nas aulas observadas e proporcionou aos alunos muitas interações, na busca de suprir o contato presencial.
Para compreender a realidade observada, que foi embasada pelas várias leituras, observa-se que para despertar a criatividade no processo de ensino-aprendizagem, deve-se considerar a curiosidade do educando. Uma “curiosidade crítica, insatisfeita e indócil” (FREIRE, 2002, p.36), que gera mudança e esta, por sua vez, é a engrenagem que fez a sociedade chegar a se desenvolver ao ponto de termos outras formas de ensinar às crianças e jovens, como foi observada neste estudo de caso, quando educador e educandos estavam longe das salas de aula físicas. O professor procurou despertar e estimular a curiosidade dos alunos para pesquisarem sobre os temas abordados e compartilharem com os colegas.
A curiosidade é inerente à espécie humana, mas pode-se verificar uma apatia ou uma falta de interesse pelos jovens da sociedade contemporânea na busca do conhecimento. Durante as observações das aulas, em muitos momentos, observou-se a fala do professor como um monólogo defronte um xadrez de figurinhas do Google Meet. Talvez, o interesse não apareceu devido à adaptação de uma aula presencial ao modelo remoto, turmas cheias no início do processo e mesmo com uso da tecnologia (slides, filmes e músicas), percebeu-se a dificuldade em levar os alunos à interação, o que levou o professor, por diversas vezes, a insistir para que debatessem e discutissem sobre o assunto e/ou tema explicitado.
Em todas as aulas, o professor procurou aplicar a prática pedagógica de Freire (2002), que aponta a necessidade de uma educação dialógica, participativa e de sensibilização, esta última desenvolvida através da problematização prática, compreensão e transformação. Nesse sentido, o professor procurou criar situações que estimulassem a curiosidade dos alunos; procurou leva-los a pensar concretamente; a reconhecer a realidade e questioná-la; estabelecer conhecimentos para transformá-la e superar a ideia de transferência de conhecimento.
Os estudantes que estão, hoje, inseridos no sistema de educação formal requerem de seus professores habilidades, competências didáticas e metodológicas para as quais eles não foram e não estão preparados. É preciso reinventar a educação, a partir da análise dos riscos, das contribuições e das mudanças que têm surgido nos últimos tempos, principalmente com a tecnologia. Os alunos precisam receber letramento digital, midiático e informacional, que são exigências da sociedade. Nesse sentido, os alunos desta escola, mesmo tendo acesso à tecnologia, sentiram dificuldades no ambiente remoto, o que demonstra essa necessidade de receberem o letramento digital.
O professor ofereceu aos alunos várias opções de atividades, que lhes permitiam atuar com sugestões, opiniões, apresentação de suas informações e conhecimentos, de acordo com Dewey (1959) que diz que é preciso buscar novas práticas pedagógicas que superem as abordagens educativas centradas na fala do professor, na leitura do livro e na passividade do estudante, que apenas responde às questões. Para isso, integrou métodos ativos no processo de ensino e aprendizagem e criou condições para a construção do conhecimento e ampliou as possibilidades de desenvolvimento de competências e habilidades, para que os alunos pudessem explicar e analisar criticamente a realidade concreta em que estão inseridos.
O professor procurou mostrar aos alunos o quanto é importante aprenderem buscar o conhecimento através de diversos recursos, pois como diz Bacich e Moran (2018), para eles, o conhecimento enciclopédico está a apenas um clique de distância, mas a análise desse conhecimento requer muitas outras competências e habilidades para efetivamente estabelecer e elaborar. A autonomia intelectual é um dos objetivos da educação e deve ser incentivada e construída em todos os níveis de ensino. É preciso assumir que a educação com o privilégio da pura disseminação do conhecimento alcançará essa autonomia como efeito colateral, nosso sistema educacional não avançará.
Com base nas observações das aulas remotas, que foi a solução para este momento de pandemia, nota-se que a forma educacional proposta não trouxe um diferencial no processo de ensino-aprendizagem, mesmo com a experiência de um professor com mais de 35 anos de licenciatura. Talvez, por ter tido pouco tempo para um planejamento, por timidez dos alunos para atuarem neste novo formato ou certa apatia devido ao momento da pandemia, enquanto muitos estão assustados, deprimidos e inseguros.
Mas é preciso considerar como positiva a experiência, que conseguiu dar continuidade as aulas e permitir que os alunos pudessem avançar. Tal experiência, com os recursos disponíveis de acesso a rede de computadores serão novas metodologias que poderão enriquecer e/ou transformar o processo de ensino-aprendizagem e contribuir significativamente para o desenvolvimento de alunos e professores.
Deve-se salientar, ainda, que no tocante à socialização, à troca de experiências, à riqueza dos relacionamentos, ao observar as aulas remotas, pode-se dizer a partir de Vygotsky (1991), que as interações presenciais são imensamente importantes na formação dos indivíduos. Isso, porque o autor tem uma concepção sociointeracionista da educação e entende que o conhecimento é construído nas interações que o sujeito estabelece em seu meio social. Segundo ele, o ser humano nasce em um meio sociocultural que o constitui desde o nascimento e ao se relacionar com o outro, a criança se apropria das significações socialmente construídas. Para Vygotsky (1991), a interação social é fundamental para a aprendizagem e para o desenvolvimento intelectual, pois o pensamento é construído gradativamente em um ambiente histórico, por isso a interação entre indivíduos exerce um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo.
A teoria vygoskyana nos leva a refletir sobre o papel da escola na formação do ser humano, pois se o aluno vem de um meio social que não lhe dá tanto acesso ao conhecimento, à leitura e à escrita, cabe à escola suprir esta necessidade, se quer formar cidadãos conscientes e atuantes em sua sociedade.
A escola não pode nem deve querer impor seus valores às crianças, mas pode usar elementos mediadores que estimulem as crianças para o ato de aprender e para isso é preciso estimulá-las à busca do conhecimento não só na escola, mas em seu dia a dia, como fez o professor Varandas nas aulas remotas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo alcançou seu objetivo, que foi de observar o desenvolvimento das aulas, a prática pedagógica do professor e o processo de ensino-aprendizagem, os quais foram acompanhados e analisados. Constatou-se, também, que há muitas possibilidades de ensinar virtualmente, com metodologias híbridas, que possibilitam e enriquecem o desenvolvimento dos indivíduos, como cidadãos, mas considera-se a importância do contato dos educandos na escola, pois como ser social, todos precisam da presença do outro para o seu desenvolvimento.
As aulas remotas foram muito importantes para que os alunos pudessem continuar o processo de aprendizagem. A escola codifica o conhecimento e lhe dá uma forma prática e, neste momento, foi através deste novo modelo, que exigiu a adaptação de todos à tecnologia e, apesar das dificuldades, o resultado foi positivo.
Salienta-se neste estudo que o conhecimento é ligado à objetivação, na qual ela implica e inscreve-se no uso da escrita, como definidora da prática do conhecimento, pois quem não sabe ler e escrever, não conhece as regras do jogo social e, consequentemente, estará fora das estruturas de poderes. Ler e escrever agora são algo mais abrangente, pois além de conhecer essas ferramentas, o aluno tem que dominar a forma de interpretar este conhecimento. Não basta mais ser um enciclopedista, mas saber o que fazer e como fazer para usá-las em benefício próprio e, também, para a sociedade como um todo, ou seja, adaptá-la, ter learnability (habilidade de aprender) e capacidade de questionar e fazer uso das ferramentas tecnológicas, que são exigências para todos os estudantes do novo milênio.
É importante salientar que o conhecimento adquirido e acumulado pelos professores durante sua formação e na sua prática pedagógica é importante para apontar novos caminhos para a educação e influenciar nas regras que serão criadas pela sociedade e solidificadas pelo meio escolar Percebe-se que a escola tem o papel de estimular os educandos na busca constante pelo conhecimento, que lhes dê condições de atuar no mercado globalizado, que exige conhecimento total e dinâmico e muita criatividade de todos, pois tudo muda muito rapidamente e é preciso saber atuar em várias áreas e direções.
Nesse sentido, Campbell (1997) compara a trajetória do indivíduo como a de um herói, que muitas vezes precisa sair de casa, da sua zona de conforto em busca da autodefinição da consciência ou do individualismo, quando vive sua aventura e no fim retorna a casa. Assim também se dá a busca do conhecimento por vias da educação, quando o indivíduo precisa sair de casa, renegar uma origem – algumas vezes humildes – para se transformar em uma pessoa possuidora de tal saber e, no fim, retornar para casa, onde não agirá da mesma forma, pois já não é o mesmo, pois foi transformado pelo conhecimento, como diz Heráclito (1996).
Este estudo não traz respostas definitivas, apenas apontou algumas reflexões sobre este novo formato de educação. É importante que ele seja socializado para estimular outros profissionais a investigarem o tema abordado e conhecer novos métodos que promovam conhecimentos relevantes e, principalmente, falar de experiências de outros educadores nas aulas ministradas de forma remota, para que juntos façam deste formato uma prática prazerosa para os professores e aluno.
Apesar do trabalho dos professores não ser valorizado nem reconhecido pelos governantes, ele é indispensável para a formação de cidadãos conscientes do seu papel na sociedade e capazes de lutar por uma sociedade mais justa e igualitária. Durante este período de pandemia, os professores precisaram se reinventar e aprenderem a lidar com a tecnologia para o ensino remoto e, dessa forma, tanto eles quanto os alunos adquiriram um novo conhecimento, que os capacitou a buscarem novas alternativas para a educação.
Percebe-se, assim, que a abordagem proativa é uma forma de avançar em conhecimentos, habilidades e novas práticas. Como o papel do professor é mais amplo e complexo, ele é principalmente o designer de roteiros personalizados e de aprendizagem em grupo, bem como o instrutor/mentor dos projetos profissionais e de vida dos alunos, pois é a partir da sua atuação que os alunos são estimulados à busca do conhecimento.
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